quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O NATAL DOS DEPRIMIDOS

     A mensagem é inequívoca: o Natal é época de paz e de felicidade, onde as famílias se reúnem em harmonia, demonstrando a sua amizade com a troca de prendas e comendo fartos repastos.
Tudo começa um mês antes com um ataque em massa do comércio a apelar ao consumo natalício. Ao fim de uns minutos no hipermercado, fico longo apático com aquelas músicas apaziguadoras e fraternas. Aproxima-se a data da grande festa e as televisões mostram nos noticiários, as pessoas atarefadas a fazerem as compras de última hora, e a mim a porem-me nervoso por ainda não ter comprado nada. Depois exibem espectáculos deprimentes como é o “Natal dos Hospitais”.
     A mim não se passa nada, porque não ligo a este tipo de festividades. Eu fico alegre ou triste, mais por intuição do que por estimulação, e por isso tenho a convicção que o Natal “dá mais trabalho do que vale”, semeando mais tristeza do que alegria.
Para muitos ficarem alegres ao receberem prendas, como é o caso das crianças, pois a ilusão da época é sobretudo para elas, muitos tem que fazer contas de cabeça e privações. Outros nem sequer recebem nada. Qual é a alegria de uma família que vê tanta fartura à sua volta e nada tem para dar aos seus?
Os carenciados, que nada tem que comer ou onde dormir, vale-lhes a caridade das instituições humanitárias, para comer um bocado de bacalhau e bolo-rei, mas no fundo devem sentir uma profunda melancolia, pois deve-lhes recordar momentos bem melhores do que aqueles que estão a viver.
Quem já perdeu os seus entes mais queridos, a recordação da sua companhia também não deve deixar-lhes muito espaço para alegrias. E quem está internado nos hospitais e nas prisões? E aqueles que tem familiares doentes no hospital? E aqueles que estão em lares? E aqueles que estão de serviço? Forças de segurança, médicos, enfermeiros, auxiliares, bombeiros, militares, etc.
Quem trabalha, faz as refeições, lava os pratos, põe e levanta a mesa, será que se sentem felizes com a época natalícia?
Os solteiros, viúvos, divorciados e todos aqueles que não tem família próxima, poucas razões têm para se sentirem alegres, pelo contrário, é uma época que custa a passar.
A época de Natal tornou-se um festejo socialmente doentio, em que tudo somado gera mais tristeza, frustração e depressão do que alegria.
Se o Natal dependesse de mim e pudesse ser cancelado por decreto, eu acabava com ele, pois tenho a convicção que existiriam mais pessoas a ficar aliviadas do que aquelas que ficariam tristes. O mesmo se aplica à estúpida festa de passagem de ano.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

GENTE DE VIDA FÁCIL

Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a de prostituta, mas isso era segundo uma visão antiga e conservadora. Debaixo da perspectiva actual, posso afirmar que existia pelo menos uma profissão mais antiga, que é a de doméstica, pois foi exactamente devido ao mau desempenho das donas de casa (e afins) que os homens recorreram às prostitutas, ou seja, uma coisa levou à outra.
Também é às prostitutas que chamam “gente de vida fácil”, o que eu acho algo injusto. Primeiro, porque o meio onde a maior parte das prostitutas vivem é marginal (fora da lei), porco, agressivo, pressionado pela droga, pelo proxenetismo e claro, pelos maridos das senhoras bem comportadas. Segundo, porque existe muita mais gente que, essa sim, vive à custa daquilo que os outros produzem.
Ainda recentemente comprei uns pequenos utensílios em plástico por 10 cêntimos cada. Anteriormente tinha perguntado noutra loja o custo de tal produto e o mesmo custava 20 cêntimos - exactamente o dobro! Como provavelmente o vendedor onde comprei os objectos estaria a ter uma margem de 100%, o outro estava a ter uma margem de 300%! É a este tipo de gente a que chamo gente de vida fácil. São bem pior que as prostitutas. Quem produz os objectos lança-os ao mercado por meia dúzia de patacas e depois certos chicos-espertos aplicam nos seus negócios margens de lucro descomunais. É por isso que não tenho nada pena dessa coisa do comércio tradicional. Prestam um mau serviço e ainda por cima procuram retirar lucros exorbitantes. Não é prática ainda muito antiga muitos comerciantes codificarem o preço nas etiquetas, o que lhes permitia depois anunciarem o preço aos clientes, de acordo com a sua aparência.
Gente de vida fácil é coisa que não falta neste nosso pequeno mundo. Os políticos - quantos não vivem camuflados pela sua bela retórica, mas que não produzem rigorosamente nada?
A religião também alberga muita gente do género. Muitos não passam de bem falantes e alguns em vez de serem motivo de união da comunidade, ainda criam conflitos, muitas vezes motivados pela posse de bens materiais.
É por tudo isto que presto aqui uma justa homenagem a todos aqueles que criam e que produzem. Aos agricultores, aos pescadores, aos mineiros, aos operários, enfim, a todos os que têm uma vida difícil e em troco recebem uma ínfima parte daquilo que produzem e no final vêem os lucros do seu trabalho ir parar à mão da tal gente de vida fácil. Por isso quando utilizarem esta expressão, esqueçam as prostitutas, pois elas não são as piores.

sábado, 5 de novembro de 2011

DESPEDIDA DO MEU PAI


1950

Nesta derradeira despedida não posso, como filho, deixar de em breves palavras e em jeito de homenagem, dar a conhecer o meu pai. 
O João Maria  Pires da Silva nasceu em 09/05/1920 em Faiões, terra esta que sempre foi a sua. Foi numa altura de fome, de miséria e de agitação, fruto das turbulências da república e da 1ª Guerra Mundial.
Desta forma cresceu, mas mal deu para fazer a escola primária e cedo ficou sem o pai, aos 12 anos.
Isso deu-lhe responsabilidades acrescidas e em pouco tempo tomou as rédeas do sustento da casa materna, tornando-a ao longo dos anos cada vez mais próspera e produtiva, permitindo que os irmãos pudessem orientar as suas vidas. A título de curiosidade, o elevado rendimento da lavoura familiar permitiu em 1957, com uma só produção de batatas, comprar dois carros novos.
1973

Nesse mesmo ano deu uma viragem à sua vida ao casar-se com a minha mãe e daí resultamos  nós, os dois filhos.
Apesar de um casamento algo tardio em relação ao normal, nem por isso deixou de manter a sua luta no trabalho. Aos 60 anos ainda gozava de plena vitalidade e por isso continuava a trabalhar e a investir naquilo que melhor sabia fazer e que o apaixonava – a agricultura. Realço que desde jovem, tinha um especial encanto por um animal de grande porte e possante, símbolo de riqueza e de produtividade, que nos velhos tempos eram o grande motor da lavoura – os bois, e que ele adorava tratar para os ver gordos e com o pelo luzidio.
2005
E assim passou a sua vida. Uma vida simples, honrada e dedicada. Trabalhou de sol a sol, com o único sonho de ver bem a sua mulher e filhos. Entendeu ajudar-nos na hora certa, como ele dizia, “agora que precisais, porque depois quando morrermos já de pouco vale”. 
Não lhe deram a oportunidade de estudar, mas naquilo que fazia demonstrava grande inteligência e capacidade de discernimento. Era um mestre a contar histórias e anedotas malandras, coisa que nós, os filhos, parecemos não herdar.
2007

Talvez por ter tido uma infância dura, lhe ter sido roubada a juventude e celebrado um casamento tardio, tenha sido premiado com uma longa vida.
Tudo isto aconteceu não só devido à perseverança dele, mas também porque teve a seu lado uma mulher não menos valiosa, que esteve sempre à altura, dando amor à família e incutindo um forte espírito de união.
 Como se já tivesse terminado a sua missão neste mundo, decidiu agora deixar-nos.
É um momento duro. Duro e triste. No entanto sinto uma grande satisfação por saber que esta estrela subiu agora ao Céu, porque achou que era esta a sua hora.
Até sempre pai e paz à tua alma.
 
Faiões, 01 de Novembro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A REVOLTA JÁ COMEÇOU


A revolta já começou há muito, muito tempo. Uma revolta lenta, silenciosa e passiva.
Vemos - a em todo o lado, mas não damos conta, nem queremos saber que existe.
Alguém já se perguntou porque é que, apesar de terem gasto milhões de euros durante anos a fio, em campanhas contra a sida (uso do preservativo), prevenção rodoviária, para mudar hábitos perniciosos para a saúde, como é o tabaco, contra a violência doméstica, separar o lixo, etc., etc., os resultados são normalmente decepcionantes?
Para quem sobrevive parte da vida com as privações de um ordenado mínimo ou de uma pensão miserável, muitas vezes partilhado, com várias pessoas numa casa diminuta, os princípios e as campanhas esbatem-se. Não há tempo nem disposição para ouvir mensagens de sensibilização e ainda menos para participar nelas. O importante é sobreviver às dificuldades que, sem dinheiro, não se conseguem superar.
A pobreza trás privações, e por inerência a saúde fica frágil, restando pouca vontade para reagir. Não há disposição para olhar para coisas bonitas e fazer boas acções. A auto-estima perde-se e cresce um sentimento de revolta contra todos aqueles que estão bem melhor e que da sua pobreza nada querem saber.
Daqueles que nascem e crescem neste ambiente, a maior parte não consegue de lá sair. Sucumbem e afundam-se. A miséria é muito mais do que a falta de recursos materiais e financeiros. É o infortúnio de ser pobre, que lhes tira a vontade de viver e progredir.
Fumar faz mal? Por o preservativo nas relações sexuais? Ir votar? Separar o lixo? São tudo perguntas que não merecem a mínima atenção por cerca de 50% da população portuguesa que vive no limiar da pobreza.
Tudo isto ajuda a perceber porque é que existe a criminalidade e a prostituição. Não é só por preguiça de trabalhar e a cobiça de ganhar dinheiro fácil. O que está por trás é um emaranhado de traumas e sentimentos profundos, que levam a desdenhar da sua própria vida e muitas vezes tomar atitudes contra os outros.
A política no mundo inteiro, seja qual for a ideologia, demonstrou ser incapaz de inverter a injustiça social. Bem pelo contrário, tem deixado aumentar cada vez mais o fosso entre os ricos e os pobres e tem-se deixado levar pelo capitalismo desenfreado.
A revolta dos mais desfavorecidos está viva e latente e vai primeiro contra eles próprios. A grande incógnita é, quando é que eles deixam de suportar a diferença abismal que existe entre pobres e ricos. Se não se atenuar a situação, arriscamo-nos no futuro, a assistir (e sofrer) actos constantes de revolta, vandalismo, assaltos, raptos, manifestações, etc..
Que não seja por falta de avisos. Até o ex-presidente da República Mário Soares, que não serve de exemplo para ninguém quanto a actos e omissões, cuja conduta na sua candidatura à presidência da República, e no apoio ao seu filho João Soares nas eleições da Câmara de Lisboa, já denotava alguma senilidade (para não lhe chamar outra coisa), veio dizer ainda há pouco tempo, a propósito das manifestações na Grécia, que corremos o risco de uma revolta a larga escala.
A linha que separa a serenidade da revolta é cada vez mais ténue. Podemos comparar esta situação com a que se vive no equilíbrio ambiental da Terra. Veremos qual vai ser a primeira a explodir.
Nota: Este artigo foi escrito por mim em 29/01/2009. Passados dois anos e 9 meses, não estamos mais próximos da explosão?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ENSAIO DO NISSAN LEAF - Vale a pena comprar um carro eléctrico?


 Isto dos carros eléctricos anda-me a dar a volta “à telha”! E porquê? Porque a expectativa é tão grande como o atraso com que se apresenta.
Nissan Leaf novo, para venda
Nos anos 70, alguns visionários previam que nesta altura já nos deslocássemos em cómodas e velozes aeronaves propulsadas a qualquer coisa que não fosse gasolina. Na realidade continuamos com o velhinho e barulhento motor de combustão interna (se não concordas, faz favor de lhe tirar o escape e já confirmas) e só não digo obsoleto, porque ainda não se apresentou nada com força para o substituir. Digo com força, porque alternativas não faltam, só que os lobbies do petróleo são tão fortes como o aço de uma cambota.
O motor de combustão, depois de mais de um século de bons e leais serviços, continua muito igual ao primeiro que apareceu e por outro lado já demonstrou que pouco mais tem para evoluir. Note-se que nos últimos anos, todo o aperfeiçoamento tecnológico a que temos assistido deve-se essencialmente à aplicação da gestão electrónica no motor e periféricos (injecção electrónica, ABS, controle de tracção e de estabilidade, etc.). Todo o resto, tem sido como a moda na roupa – reeditam velhas descobertas como é o turbo, a injecção directa, etc., e aperfeiçoam-no. Na alta competição como é a F1, resolveram tirar (pequena) parte da electrónica com a finalidade de lhe devolver aquilo que era antes, ou seja, mais rudimentar e mais competitiva.
Com os ecologistas a picarem-nos a mona durante décadas a fio, e as sucessivas crises (económicas e não só) a ditarem a subida em flecha do “pitróleo”, agora parece que é de vez, as grandes marcas decidiram involucrar-se nesta coisa dos carros eléctricos.
O patinho feio - Peugeot ion
A Nissan foi a que se decidiu primeiro avançar, e o Leaf foi de imediato premiado com a distinção de “carro do ano europeu 2011”. A Peugeot (i-on), Citroen (c-zero) e Mitsubishi (i-miev) também lançaram em conjunto uma coisa parecida a um carro, mas só de o ver dá logo vontade de voltar à combustão interna. São tão feios, caros e ineficientes, que ninguém fala deles, é como se não existissem. Foram mesmo infelizes.
Para fazer o ensaio ao carro tive que me sujeitar a ir ao Porto, tendo que pedir através da Nissan Portugal. Isto porque muito poucos concessionários no país arriscaram ter um tipo de veículo desconhecido e caro (imagina no séc. XIX o grosso das vendas serem carruagens puxadas a cavalo e aparecer nessa altura um novo produto propulsado a vapor).
O preço é o primeiro choque, pese embora o Estado dizer que reembolsa 5000€. Por isso aponto aquela que considero a primeira grande desvantagem do Nissan Leaf: o preço - 38.000,00€!
O vendedor, muito simpático, nem parecia que queria vender um carro, de tão céptico que estava. Talvez me tenha lido nos olhos que não tinha a mínima intenção de o comprar.
O carro testado
A 1ª surpresa foi o compartimento do motor. Eu, que estava à espera de ver lá um grande espaço vazio, surpresa, afinal tem lá um bloco que parece mesmo um motor de combustão. Pois é, isto de ser eléctrico não é tão simples como queriam fazer crer. Para fazer o que os outros fazem, os motores eléctricos têm que ter refrigeração, radiadores para o ar condicionado, óleo dos travões, direcção assistida, etc. etc.. Depois temos as baterias (normalmente de iões de lítio) que também tem que ser refrigeradas. Com tudo isto somado, constatamos a segunda grande desvantagem: o peso. Tendo mais 400 Kg que um carro convencional do mesmo segmento, equivale a este último estar carregado com 4 passageiros (médios) e respectiva bagagem.
A mala é cerca de 25% mais pequena que o normal (330m3), não sendo uma diminuição substancial.
O interior é agradável e o quadro de instrumentos tem um aspecto “high tech”. Inclui de série o normalmente caro GPS, isto, para permitir ao sistema de gestão de energia, calcular e dizer-nos com mais precisão a distância até onde poderemos deslocar-nos.
Ligar o Leaf é como ligar uma televisão, tendo como condição de segurança carregar no travão. Selecciona-se num pequeno comutador se queremos ir para a frente ou para trás, e pronto, é só acelerar e travar. Em andamento, é extremamente confortável e silencioso, marcando aqui a grande diferença positiva para os convencionais.
O carro mesmo em modo económico tem uma grande capacidade de aceleração, no entanto quem sabe da limitada autonomia, decerto poucas vezes se deve dar ao gosto de o utilizar de forma desportiva. Dizem ter uma autonomia de 160 Km, mas li num teste que, conduzindo o mesmo sem limites, a autonomia não vai além dos 70 Km, e mesmo numa utilização normal, pouco mais faz do que 120 Km. E com isto constatamos a terceira grande desvantagem: a limitada autonomia.
Um interior muito tecnológico
Voltando às baterias, as mesmas utilizam a tecnologia de iões de lítio laminadas. Conforme já referi, conferem um maior peso ao carro, mas o pior é que, apesar de não terem efeito de memória na carga, as mesmas tem uma duração limitada, que se traduz em número de ciclos. Claro que a marca não quer falar nem ouvir falar disso, ainda por cima porque, ao declarar uma duração média de 10 anos, dá para as mesmas uma escassa garantia de 5 anos (!) num produto acabadinho de sair. Isto é que é cativar a confiança do cliente!
Não posso falar muito sobre a questão do número de ciclos de duração das baterias, porque não consegui dados concretos. Parece segredo de estado! O facto é que elas tem uma duração limitada. Hipoteticamente, se durassem 2.000 ciclos e fossem carregadas todos os dias, davam para cerca de 5 anos. Muito curto, mas se dessem para 6.000 ciclos, dariam para 15 anos, um valor já muito aceitável. Por não saber ao certo quanto duram tenho que apontar este facto como a quarta grande desvantagem, pois ao preço que dizem que custam as mesmas (de 10.000 a 23.000€!) comprar este carro é mesmo um negócio arriscado, e ainda mais se a garantia do fabricante for de 5 anos!
Até agora nem pensava em manutenção, pois o que se falava é que era quase nula. Porém na página da Peugeot, relativamente ao seu patinho feio “i-on”, dão como grande vantagem obter uma poupança de 20% em relação aos convencionais.
Vinte por cento! Que lata. Então num carro de motor de combustão as intervenções de manutenção ordinárias, recaem essencialmente sobre o motor, ou seja, mudanças de óleo, respectivos filtros, filtros de ar, velas, etc., e as manutenções maiores recaem sobre afinação de válvulas, correia de distribuição, óleo da caixa de velocidades, etc., tudo ou quase tudo são no motor.
O apêndice aerodinâmico traseiro é acessório pago
Sendo um motor eléctrico muitíssimo mais simples do que um motor de combustão, como é que se poupa apenas 20%? Provavelmente estamos a ajudar pagar a amortização do novo equipamento de diagnóstico e manutenção, mas não é por saber isso que vou ficar satisfeito por uma vantagem se transformar em desvantagem, que no seguimento deste texto, será a quinta grande desvantagem.
Tendo em conta a proveniência da energia eléctrica (barragens, eólica e térmica), dizem que um carro eléctrico emite o equivalente a 50 gr de monóxido. Um carro a gasolina equivalente emite 100-120 gr. Tendo ainda em conta os custos ambientais de extração de um metal raro como o lítio e ainda a reciclagem dessas baterias no fim da vida, pode-se dizer que em termos de ganhos ambientais é quase tanto como na manutenção do Peugeot. Eu até arredondaria para zero.
Se ao nível de prestações qualquer carro a gasolina faz melhor que um eléctrico, o que é que ganhamos em comprar um carro eléctrico? Penso que só e apenas ter um produto diferente do convencional.
Concluindo, considero que este, não é de forma alguma o momento para comprar este tipo de veículos, a não ser que sejas um amante das novas tecnologias e não te falte o dinheiro.
Para valer a pena a compra, há que aplicar multiplicar e dividir por dois as desvantagens atrás citadas. Grosso modo, é necessário duplicar a autonomia e o tempo de vida das baterias e baixar para metade o preço de aquisição, a manutenção e o peso das baterias/veículo.
Isto ainda é só o início. Falta a concorrência começar a lançar os respectivos modelos. Por exemplo, nos hibrídos, a Toyota e a Honda dão como garantia para as suas baterias, 8 anos, um valor bem mais razoável do que os cinco da Nissan. E com o passar do tempo outros itens se irão ajustar às nossas expectativas. Há que dar tempo, muito tempo…
E com este pequeno estudo estabilizei as ideias e perdi de certa forma as expectativas iniciais. Continuo atento aos eléctricos, mas agora a minha opinião é que talvez os híbridos sejam uma boa solução de transição.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

QUERO DE VOLTA A MINHA LIBERDADE

O acto de viver numa sociedade, é cada vez mais a subjugação a um sistema de forças que nos obriga a fazer aquilo que está estabelecido.
Aos poucos saem leis, despachos, normas, que nos vão limitando a nossa acção e tolhendo a nossa liberdade.

A título de exemplo, no tempo em que um carro para atingir 100 Km/h era um feito (com a proporcional capacidade de travagem), o limite da velocidade máxima em estrada era 90 Km/h. Passados mais de 50 anos de uma avassaladora evolução tecnológica, com sofisticados sistemas electrónicos de controlo de estabilidade, de travagem e de tracção, de nada servem para que esses limites se alterem. E isto não irá ficar por aqui. Os limites de velocidade hão-de baixar tanto, que um dia temos que andar de marcha-atrás para os cumprir.
Há quarenta ou cinquenta anos, com os mesmos 10 milhões de habitantes, existiam provavelmente menos de metade das leis que agora existem. Como é que, com o mesmo número de pessoas tornou-se necessária tanta lei e ordem? Será que as pessoas estão a ficar mais selvagens e indomáveis do que outrora?
Deambulamos num sistema que se diz democrático, mas decididamente opressor, que actua de forma cega à procura de fazer vergar indivíduos e pequenos grupos desobedientes e radicais, mas que na prática atinge toda uma população que nada tem a ver com o assunto. É o que se chama “apanhar por tabela”.
Compreendo assim, porque existem pessoas que optam por se isolar de todas estas contrariedades. Não se pode conduzir com velocidade por causa dos drogados, bêbados e inconscientes, não se pode ir para a floresta por causa dos incendiários e outros anormais, não se pode ir para as dunas por causa dos agressores do ambiente e dos areeiros… que mais nos irá acontecer?
Como se tudo isso não bastasse, a própria sociedade impõe valores seculares que em nada ajudam a nossa lucidez mental para poder decidir o nosso futuro. Basta nascer neste mundo e toca a incutir-nos que para ser normal é preciso casar, ter filhos, ter uma casa, um carro e outros acessórios. E nós encantados da vida, manipulados até aos cabelos, lá percorremos o caminho que nos foi traçado.
Sou cumpridor, respeitador e consciente das minhas possibilidades. Por isso não gosto que me limitem as minhas acções. Não gosto de ter que cumprir um sinal de proibição de circular a mais de 120 Km/h, quando verifico que posso ir a maior velocidade. Não gosto de que me proíbam só porque existe uma minoria que não cumpre as normas mais elementares de vivência em grupo.
Sinto que, com o passar dos anos, isto está a tornar-se uma penitenciária gigante, ao ar livre. Porque sou cumpridor e não infringi nenhuma lei, exijo que me seja devolvida a minha liberdade de poder optar por aquilo que eu considero mais indicado. A minha condição de ser inteligente assim o reclama.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

EXAME DE CONSCIÊNCIA

É mais fácil criticar do que fazer. Ponto assente. Porém, se a crítica for construtiva e oportuna, pode valer milhões. Regra geral, ninguém gosta de ser contrariado e ainda menos que lhe apontem o dedo a más acções.
A liberdade de expressão tem um lado saudável e uma vertente perniciosa. Depende de quem a utiliza. A comunicação social é exemplo disso. Dentro dela vemos o bom e o mau jornalismo. Quantas vezes já não assistimos à invenção de histórias bem orquestradas e que não passam de calúnias. O actual estado do sistema judicial e da informação está de tal forma degradado, que ninguém sabe de forma absoluta o que é verdade e o que é mentira, pois existe sempre alguém com ar imaculado a desmentir os factos.
Nesta sociedade mascarada, onde só as crianças e os ingénuos acreditam naquilo que vêem, vive-se duramente o dia-a-dia, num claro exercício de sobrevivência, tal qual o faziam os nossos antepassados, nos tempos das cavernas.
Ser frontal, criticar, ou mesmo não ser hipocritamente cordial, pode sair caro. Todos sabemos que a denúncia ou a acusação contra poderes e interesses instalados pode mais rapidamente ir contra nós do que a favor da justiça e da igualdade. Por isso é que muitas vezes ouvimos ou assistimos a violência doméstica mesmo ao lado da nossa casa e silenciamo-nos atrás do ditado “entre homem e mulher não se mete a colher”.
O Estado, que gere os bens e os interesses comuns dos seus súbditos, é frequentemente alvo de críticas sobre a forma como o faz. Há trinta e tal anos o remédio era santo. Das duas uma: ou se fazia às escondidas ou então estava-se sujeito à mão pesada de quem fiscalizava os desbocados que criticavam o regime.
Mais do que nunca é preciso criticar, mas sempre com responsabilidade. Temos o dever cívico de zelar pelo espaço comum. E devemos ser exigentes ao pormenor, pois cada cêntimo do erário público é muitas vezes proveniente de impostos que a muitos custou e faziam falta para comer. Não basta lançar um olhar distraído. A complacência típica do povo português, tem resultado em aproveitamentos escandalosos por parte de indivíduos e grupos profissionais que vivem e enriquecem à custa de fugas por má gestão dos dinheiros públicos.
Quem recebe as críticas deve convertê-las em energia, para ultrapassar os obstáculos. Deve ser suficientemente introspectivo para fazer melhor e superar-se.
Por isso, todos nós, cidadãos, somos responsáveis por tudo aquilo que fazemos, devemos assumir e fazer um exame de consciência sobre as nossas palavras e os nossos actos.
Pior do que mal criticar, é criticar quem critica. É como roubar a caça ao caçador, dar um tiro nas costas a um amigo ou roubar um pobre, mas no contexto deste assunto, tudo não passa de um acto de mera pobreza intelectual. Também é a reacção negativa daqueles que não são introspectivos e não suportam a responsabilidade do cargo que ocupam.