Dizem que a profissão mais antiga do mundo é a de prostituta, mas isso era segundo uma visão antiga e conservadora. Debaixo da perspectiva actual, posso afirmar que existia pelo menos uma profissão mais antiga, que é a de doméstica, pois foi exactamente devido ao mau desempenho das donas de casa (e afins) que os homens recorreram às prostitutas, ou seja, uma coisa levou à outra.
Também é às prostitutas que chamam “gente de vida fácil”, o que eu acho algo injusto. Primeiro, porque o meio onde a maior parte das prostitutas vivem é marginal (fora da lei), porco, agressivo, pressionado pela droga, pelo proxenetismo e claro, pelos maridos das senhoras bem comportadas. Segundo, porque existe muita mais gente que, essa sim, vive à custa daquilo que os outros produzem.
Ainda recentemente comprei uns pequenos utensílios em plástico por 10 cêntimos cada. Anteriormente tinha perguntado noutra loja o custo de tal produto e o mesmo custava 20 cêntimos - exactamente o dobro! Como provavelmente o vendedor onde comprei os objectos estaria a ter uma margem de 100%, o outro estava a ter uma margem de 300%! É a este tipo de gente a que chamo gente de vida fácil. São bem pior que as prostitutas. Quem produz os objectos lança-os ao mercado por meia dúzia de patacas e depois certos chicos-espertos aplicam nos seus negócios margens de lucro descomunais. É por isso que não tenho nada pena dessa coisa do comércio tradicional. Prestam um mau serviço e ainda por cima procuram retirar lucros exorbitantes. Não é prática ainda muito antiga muitos comerciantes codificarem o preço nas etiquetas, o que lhes permitia depois anunciarem o preço aos clientes, de acordo com a sua aparência.
Gente de vida fácil é coisa que não falta neste nosso pequeno mundo. Os políticos - quantos não vivem camuflados pela sua bela retórica, mas que não produzem rigorosamente nada?
A religião também alberga muita gente do género. Muitos não passam de bem falantes e alguns em vez de serem motivo de união da comunidade, ainda criam conflitos, muitas vezes motivados pela posse de bens materiais.
É por tudo isto que presto aqui uma justa homenagem a todos aqueles que criam e que produzem. Aos agricultores, aos pescadores, aos mineiros, aos operários, enfim, a todos os que têm uma vida difícil e em troco recebem uma ínfima parte daquilo que produzem e no final vêem os lucros do seu trabalho ir parar à mão da tal gente de vida fácil. Por isso quando utilizarem esta expressão, esqueçam as prostitutas, pois elas não são as piores.
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