Isto dos carros eléctricos anda-me a dar a volta “à telha”! E porquê? Porque a expectativa é tão grande como o atraso com que se apresenta.
Nissan Leaf novo, para venda |
Nos anos 70, alguns visionários previam que nesta altura já nos deslocássemos em cómodas e velozes aeronaves propulsadas a qualquer coisa que não fosse gasolina. Na realidade continuamos com o velhinho e barulhento motor de combustão interna (se não concordas, faz favor de lhe tirar o escape e já confirmas) e só não digo obsoleto, porque ainda não se apresentou nada com força para o substituir. Digo com força, porque alternativas não faltam, só que os lobbies do petróleo são tão fortes como o aço de uma cambota.
O motor de combustão, depois de mais de um século de bons e leais serviços, continua muito igual ao primeiro que apareceu e por outro lado já demonstrou que pouco mais tem para evoluir. Note-se que nos últimos anos, todo o aperfeiçoamento tecnológico a que temos assistido deve-se essencialmente à aplicação da gestão electrónica no motor e periféricos (injecção electrónica, ABS, controle de tracção e de estabilidade, etc.). Todo o resto, tem sido como a moda na roupa – reeditam velhas descobertas como é o turbo, a injecção directa, etc., e aperfeiçoam-no. Na alta competição como é a F1, resolveram tirar (pequena) parte da electrónica com a finalidade de lhe devolver aquilo que era antes, ou seja, mais rudimentar e mais competitiva.
Com os ecologistas a picarem-nos a mona durante décadas a fio, e as sucessivas crises (económicas e não só) a ditarem a subida em flecha do “pitróleo”, agora parece que é de vez, as grandes marcas decidiram involucrar-se nesta coisa dos carros eléctricos.
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O patinho feio - Peugeot ion |
A Nissan foi a que se decidiu primeiro avançar, e o Leaf foi de imediato premiado com a distinção de “carro do ano europeu 2011” . A Peugeot (i-on), Citroen (c-zero) e Mitsubishi (i-miev) também lançaram em conjunto uma coisa parecida a um carro, mas só de o ver dá logo vontade de voltar à combustão interna. São tão feios, caros e ineficientes, que ninguém fala deles, é como se não existissem. Foram mesmo infelizes.
Para fazer o ensaio ao carro tive que me sujeitar a ir ao Porto, tendo que pedir através da Nissan Portugal. Isto porque muito poucos concessionários no país arriscaram ter um tipo de veículo desconhecido e caro (imagina no séc. XIX o grosso das vendas serem carruagens puxadas a cavalo e aparecer nessa altura um novo produto propulsado a vapor).
O preço é o primeiro choque, pese embora o Estado dizer que reembolsa 5000€. Por isso aponto aquela que considero a primeira grande desvantagem do Nissan Leaf: o preço - 38.000,00€!
O vendedor, muito simpático, nem parecia que queria vender um carro, de tão céptico que estava. Talvez me tenha lido nos olhos que não tinha a mínima intenção de o comprar.
O carro testado |
A 1ª surpresa foi o compartimento do motor. Eu, que estava à espera de ver lá um grande espaço vazio, surpresa, afinal tem lá um bloco que parece mesmo um motor de combustão. Pois é, isto de ser eléctrico não é tão simples como queriam fazer crer. Para fazer o que os outros fazem, os motores eléctricos têm que ter refrigeração, radiadores para o ar condicionado, óleo dos travões, direcção assistida, etc. etc.. Depois temos as baterias (normalmente de iões de lítio) que também tem que ser refrigeradas. Com tudo isto somado, constatamos a segunda grande desvantagem: o peso. Tendo mais 400 Kg que um carro convencional do mesmo segmento, equivale a este último estar carregado com 4 passageiros (médios) e respectiva bagagem.
A mala é cerca de 25% mais pequena que o normal (330m3), não sendo uma diminuição substancial.
O interior é agradável e o quadro de instrumentos tem um aspecto “high tech”. Inclui de série o normalmente caro GPS, isto, para permitir ao sistema de gestão de energia, calcular e dizer-nos com mais precisão a distância até onde poderemos deslocar-nos.
Ligar o Leaf é como ligar uma televisão, tendo como condição de segurança carregar no travão. Selecciona-se num pequeno comutador se queremos ir para a frente ou para trás, e pronto, é só acelerar e travar. Em andamento, é extremamente confortável e silencioso, marcando aqui a grande diferença positiva para os convencionais.
O carro mesmo em modo económico tem uma grande capacidade de aceleração, no entanto quem sabe da limitada autonomia, decerto poucas vezes se deve dar ao gosto de o utilizar de forma desportiva. Dizem ter uma autonomia de 160 Km , mas li num teste que, conduzindo o mesmo sem limites, a autonomia não vai além dos 70 Km , e mesmo numa utilização normal, pouco mais faz do que 120 Km . E com isto constatamos a terceira grande desvantagem: a limitada autonomia.
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Um interior muito tecnológico |
Voltando às baterias, as mesmas utilizam a tecnologia de iões de lítio laminadas. Conforme já referi, conferem um maior peso ao carro, mas o pior é que, apesar de não terem efeito de memória na carga, as mesmas tem uma duração limitada, que se traduz em número de ciclos. Claro que a marca não quer falar nem ouvir falar disso, ainda por cima porque, ao declarar uma duração média de 10 anos, dá para as mesmas uma escassa garantia de 5 anos (!) num produto acabadinho de sair. Isto é que é cativar a confiança do cliente!
Não posso falar muito sobre a questão do número de ciclos de duração das baterias, porque não consegui dados concretos. Parece segredo de estado! O facto é que elas tem uma duração limitada. Hipoteticamente, se durassem 2.000 ciclos e fossem carregadas todos os dias, davam para cerca de 5 anos. Muito curto, mas se dessem para 6.000 ciclos, dariam para 15 anos, um valor já muito aceitável. Por não saber ao certo quanto duram tenho que apontar este facto como a quarta grande desvantagem, pois ao preço que dizem que custam as mesmas (de 10.000 a 23.000€!) comprar este carro é mesmo um negócio arriscado, e ainda mais se a garantia do fabricante for de 5 anos!
Até agora nem pensava em manutenção, pois o que se falava é que era quase nula. Porém na página da Peugeot, relativamente ao seu patinho feio “i-on”, dão como grande vantagem obter uma poupança de 20% em relação aos convencionais.
Vinte por cento! Que lata. Então num carro de motor de combustão as intervenções de manutenção ordinárias, recaem essencialmente sobre o motor, ou seja, mudanças de óleo, respectivos filtros, filtros de ar, velas, etc., e as manutenções maiores recaem sobre afinação de válvulas, correia de distribuição, óleo da caixa de velocidades, etc., tudo ou quase tudo são no motor.
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O apêndice aerodinâmico traseiro é acessório pago |
Tendo em conta a proveniência da energia eléctrica (barragens, eólica e térmica), dizem que um carro eléctrico emite o equivalente a 50 gr de monóxido. Um carro a gasolina equivalente emite 100-120 gr . Tendo ainda em conta os custos ambientais de extração de um metal raro como o lítio e ainda a reciclagem dessas baterias no fim da vida, pode-se dizer que em termos de ganhos ambientais é quase tanto como na manutenção do Peugeot. Eu até arredondaria para zero.
Se ao nível de prestações qualquer carro a gasolina faz melhor que um eléctrico, o que é que ganhamos em comprar um carro eléctrico? Penso que só e apenas ter um produto diferente do convencional.
Concluindo, considero que este, não é de forma alguma o momento para comprar este tipo de veículos, a não ser que sejas um amante das novas tecnologias e não te falte o dinheiro.
Para valer a pena a compra, há que aplicar multiplicar e dividir por dois as desvantagens atrás citadas. Grosso modo, é necessário duplicar a autonomia e o tempo de vida das baterias e baixar para metade o preço de aquisição, a manutenção e o peso das baterias/veículo.
Isto ainda é só o início. Falta a concorrência começar a lançar os respectivos modelos. Por exemplo, nos hibrídos, a Toyota e a Honda dão como garantia para as suas baterias, 8 anos, um valor bem mais razoável do que os cinco da Nissan. E com o passar do tempo outros itens se irão ajustar às nossas expectativas. Há que dar tempo, muito tempo…
E com este pequeno estudo estabilizei as ideias e perdi de certa forma as expectativas iniciais. Continuo atento aos eléctricos, mas agora a minha opinião é que talvez os híbridos sejam uma boa solução de transição.
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