sábado, 5 de novembro de 2011

DESPEDIDA DO MEU PAI


1950

Nesta derradeira despedida não posso, como filho, deixar de em breves palavras e em jeito de homenagem, dar a conhecer o meu pai. 
O João Maria  Pires da Silva nasceu em 09/05/1920 em Faiões, terra esta que sempre foi a sua. Foi numa altura de fome, de miséria e de agitação, fruto das turbulências da república e da 1ª Guerra Mundial.
Desta forma cresceu, mas mal deu para fazer a escola primária e cedo ficou sem o pai, aos 12 anos.
Isso deu-lhe responsabilidades acrescidas e em pouco tempo tomou as rédeas do sustento da casa materna, tornando-a ao longo dos anos cada vez mais próspera e produtiva, permitindo que os irmãos pudessem orientar as suas vidas. A título de curiosidade, o elevado rendimento da lavoura familiar permitiu em 1957, com uma só produção de batatas, comprar dois carros novos.
1973

Nesse mesmo ano deu uma viragem à sua vida ao casar-se com a minha mãe e daí resultamos  nós, os dois filhos.
Apesar de um casamento algo tardio em relação ao normal, nem por isso deixou de manter a sua luta no trabalho. Aos 60 anos ainda gozava de plena vitalidade e por isso continuava a trabalhar e a investir naquilo que melhor sabia fazer e que o apaixonava – a agricultura. Realço que desde jovem, tinha um especial encanto por um animal de grande porte e possante, símbolo de riqueza e de produtividade, que nos velhos tempos eram o grande motor da lavoura – os bois, e que ele adorava tratar para os ver gordos e com o pelo luzidio.
2005
E assim passou a sua vida. Uma vida simples, honrada e dedicada. Trabalhou de sol a sol, com o único sonho de ver bem a sua mulher e filhos. Entendeu ajudar-nos na hora certa, como ele dizia, “agora que precisais, porque depois quando morrermos já de pouco vale”. 
Não lhe deram a oportunidade de estudar, mas naquilo que fazia demonstrava grande inteligência e capacidade de discernimento. Era um mestre a contar histórias e anedotas malandras, coisa que nós, os filhos, parecemos não herdar.
2007

Talvez por ter tido uma infância dura, lhe ter sido roubada a juventude e celebrado um casamento tardio, tenha sido premiado com uma longa vida.
Tudo isto aconteceu não só devido à perseverança dele, mas também porque teve a seu lado uma mulher não menos valiosa, que esteve sempre à altura, dando amor à família e incutindo um forte espírito de união.
 Como se já tivesse terminado a sua missão neste mundo, decidiu agora deixar-nos.
É um momento duro. Duro e triste. No entanto sinto uma grande satisfação por saber que esta estrela subiu agora ao Céu, porque achou que era esta a sua hora.
Até sempre pai e paz à tua alma.
 
Faiões, 01 de Novembro de 2011

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