quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A CONSPIRAÇÃO DO PORCO

Há bem pouco tempo convidaram-me para mais um dos muitos eventos que terminam em almoço-convívio. No meio da conversa revelaram-me o grande atractivo, o porco no espeto, a que muitos faz salivar, mas a mim levou-me a reflexionar sobre esta e outras novas modas culinárias e consequentemente parir este texto.
Há muito que estou atento às manobras subtis da pesada indústria alimentar. Sedente de lucro e de soluções para fazer frente à cada vez mais desconfiada sociedade, essa grande máquina que nos põe a comida na mesa utiliza todos o meios disponíveis para nos manipular e levar-nos a consumir naquilo que eles querem, independentemente do bem ou mal que nos possa fazer à saúde.
Nos velhos tempos, em casas dos meus pais, durante vários anos fazíamos a matança do porco. Aquilo era uma festa, mas também horas de muito trabalho, pois o bicho era dividido em múltiplas partes e cada uma delas tinha o seu destino e o seu proveito. Foi exactamente por isso que chegou o ano em que se decidiu parar, porque gerava tantas partes nefastas para a alimentação, nomeadamente a gordura, muita gordura, que não era mais suportável dar-lhe destino, a não ser que se abrisse uma fábrica de sebo ou de sabão.
Como a imaginação e a criatividade humana não tem limites, aproveitando já agora para salientar uma “qualidade” muito portuguesa,  o “chico-espertismo”, houve alguém que pensou, como despachar um porco sem ter desperdícios. Pois bem, o porco no espeto! Basta por o porco por cima de umas brasas, lambuzá-lo com muito molho, cortar em fatias fininhas para que não se note o que vai “na bagagem” e toca a ver todos os comensais a babarem-se por aquele riquíssimo manjar. E assim temos os clientes completamente satisfeitos a lamberem os dedos impregnados de gordura e um porco despachado, sem perdas nem desperdícios!
Mas nem sempre é possível despachar um porco inteiro e então acumulam-se aquelas partes gordas que ninguém quer(ia) comer…. até que um belo dia outra alma criativa inventou o bacon, a que nós chamávamos de toucinho e o dicionário de língua portuguesa identifica como sendo uma “camada de gordura por baixo da pele do porco, usada em culinária”.
Penso que não é necessário gastar tempo a detalhar qual a composição dessa parte do porco e o mal que faz à nossa saúde, mas posso afirmar que a popularização desse troço de carne veio resolver um grave problema de saturação que tinham entre mãos os produtores e retalhistas da indústria da carne.
E como resolveram o problema? Muito simples. Sendo um produto que é ao preço da chuva e ademais a sua composição principal – a gordura, é das mais aditivas que existem depois do açúcar, bastou pô-lo nas mãos dos gigantes da comida rápida (Mcdonald´s, Burgerking, Telepizza, Pizza ut, e muitas mais), por a potente máquina publicitária a funcionar e pronto, transformaram um troço de carne gorda que ninguém comia pelo mau que era, num dos produtos mais populares e apetecidos do mundo!
É evidente que escrevo isto com a maior das indignações, porque a indústria alimentar conspira repetidas vezes contra a nossa saúde sem olhar a meios e sem remorsos,  constituindo um verdadeiro atentado criminal que está a arrastar a maior parte da população pelo caminho da obesidade, sem dar-se conta, tal quais as inocentes ovelhinhas que vão a caminho do matadouro.
Culpados? Vamos sempre ter aos mesmos. Já sabemos quem são os prevaricadores, mas depois temos aqueles que o permitem e imagina lá quem são… os políticos, claro!
Fazem leis para tudo, mas em relação à alimentação é tudo muito cauteloso e liberal. E o que vale é que existe o parlamento europeu que pariu muita legislação de informação ao consumidor, senão estes pobres “portugas” estavam mesmo entregues aos algozes!
Anda meio mundo (político) apanhado pelo rabo, ou seja, com um pé na política e outro nos grandes grupos económicos e por isso movem-se com muita cautela. Ademais as pessoas ao estarem doentes vão alimentar outra grande indústria, que é a da saúde. Pobres ovelhinhas!

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UM DEPOIMENTO MUITO LOUCO

  Quando pequeno e na hora da sesta estava na cama com o meu pai (sim, sim uma sesta!) ele, que era um mestre a contar anedotas e muitos episódios engraçados (foi nesse cenário que me ensinou a assobiar), costumava recitar uma cantilena muito engraçada, da qual memorizei apenas uma pequena parte e soava assim:

Era meia-noite quando o sol raiava, entre as trevas de uma claro dia.
Que vejo eu?
Um jovem ancião, sentado num banco de pau de pedra, que calado assim dizia:
- A lua é uma esfera quadrada... (e mais não sei).



  Como na internet se encontra tudo ou quase  tudo, lembrei-me de pesquisar sobre o assunto.
Sim, encontrei bastantes coisas, que coincidiam algo na primeira frase, sendo na sua maior parte oriundas do Brasil, titulado como Um depoimento (muito louco) (clicar) ou a Carta de um louco para um maluco (clicar), mas onde encontrei a mais parecida foi numa conta do facebook denominada de  HojeEuChoro (também do Brasil) que passo a transcrever:

Era meia noite em ponto
O sol raiava por entre as trevas de um claro dia.
Um jovem ancião da barbas brancas
Sentado num banco de pau, feito de pedra
Lendo um jornal sem letras
Muito calado assim dizia:
Na rectaguarda da frente
Morreu gloriosamente um sargento tenente
Ficando em perigo de vida.


  Velhos tempos...


sexta-feira, 12 de maio de 2017

A TRISTEZA DOS PORTUGUESES

Nas várias ocasiões que conversei com os nossos vizinhos espanhóis sobre o que pensam de nós portugueses, têm uma opinião quase unânime de que somos um povo triste e excessivamente formal,  poeticamente falando, suavemente envolvidos pela melancolia do fado. Ademais fazem alarde que são um povo alegre, festeiro e cercano.
Essa era também a ideia que tinha, alentada também pelos canais nacionais espanhóis, onde realmente se pode ver alegria, humor, beleza, comunicação, etc... No na prática, as coisas não são bem como nos fazem imaginar.
Foi ao viver algum tempo no seu meio que me deu a oportunidade de verificar que os espanhóis são exactamente como nós portugueses. Há pessoas alegres, tristes, introvertidas, comunicativas, imaginativas, ignorantes, formais, próximos, conflituosos, isolados, desagradáveis, hospitaleiros, sociável, solitários, tudo, tudo igual como nós!
Mas afinal onde está a diferença?
- A diferença está na força do conjunto como povo e na política da sua comunicação social.
Conhecendo os espanhóis individualmente, em tudo parecem iguais a nós, mas em conjunto revelam uma sinergia ímpar, que nós portugueses nem por sombras conseguimos. Ao longo dos tempos estabeleceram tradições, convívios, festas, hábitos sociais que tornam qualquer lugar acolhedor, surpreendendo positivamente qualquer visitante desprevenido. Ok, ok, nós também temos disso, mas num grau substancialmente mais baixo. Por essa e por outras estão atualmente a beneficiar de um turismo apoteótico e que não pára de crescer…
Mas onde a diferença é abismal (para mim quase chocante) é na comunicação social. Indubitavelmente temos um comportamento excessivamente formal. Num primeiro contacto tratamo-nos sempre por “você”, favorecendo o afastamento, custando-nos depois estabelecer a necessária confiança e intimidade. A escrever…, bom a escrever, somos desmesuradamente formais! Estou a escrever este texto e sinto que estou a ser formal. Que vou eu fazer? Sou português! Em Espanha, é tudo muito mais informal. Os palavrões e o calão soam bem; isso acaba por ajuda as pessoas a comunicar de forma mais íntima e estimula as relações pessoais. Em Portugal, isso soa a ofensivo, mal-educado e dá sensações de falta de cultura.

Imagem típica da televisão portuguesa.
 Uma boca invertida significa "tristeza", não?
Mas o pior de tudo são os órgãos audiovisuais. Em Portugal, aquando da transição para a difusão da TV digital - TDT, assistimos a um autêntico embuste e saque ao povo português, quando em uníssono todos os canais, digo - RTP1,RTP2, SIC e TVI, praticamente bloquearam a emissão livre e direccionaram todo o seu potencial para os canais pagos. Paralelamente, temos assistido impávidos à selecção de uma geração de profissionais da comunicação social, que é um autêntico retrocesso e agressão ao espírito dos portugueses. Com as tristes esfinges mumificadas que neste momento desfilam pela televisão portuguesa, o humor esfumou-se, a formalidade tornou-se obrigatória e o acento do sul (Lisboa) impera. É aí que a nossa imagem é mais lesada e ao mesmo tempo envolvem-nos de tristeza. Onde está o humor dos anos 40 como o Pátio das Cantigas? Enterraram-no, essa cambada de parasitas presumidos que ganham rios de dinheiro e ainda comprometem a nossa cultura e o nosso espírito. Com toda a certeza que são parentes ou compadres daqueles que fomentaram o polémico acordo
ortográfico.

É nisto que os espanhóis levam a nota máxima. Na transição para o TDT, investiram fortemente na televisão pública, tendo cerca de 40 canais livres, entre nacionais e autonómicos. Seleccionam os melhores profissionais tendo em conta as suas apetências e qualificações. O humor, a cultura, a beleza, a atitude positiva, a solidariedade, a preocupação pelo bem-estar e pela razão e pela justiça, são de entre os muitos valores que diariamente são transmitidos ao povo espanhol.
E que é que daí obtém? Obtêm um povo alegre, positivo, cheio de vontade de trabalhar, de se divertir, de viver…

E nós? Parece que nos condenaram condenados a sermos para sempre os “três tristes tigres”, não por sermos tigres mas por sermos tristes, sem o sermos…

quarta-feira, 12 de abril de 2017

MISÉRIA ENERGÉTICA

Sim, é isso mesmo que estamos a viver neste momento. Miséria energética!
Temos que retorcer-nos para gastar o mínimo, porque o preço da energia está pelas nuvens.
Não é porque esteja difícil de obter, mas porque está como tudo o que dá dinheiro, está sujeito a uma obscura especulação a que a política propositada e interessadamente fecha os olhos ou até incentiva.
Como se isso não fosse suficiente, voltam os políticos a meter a mão, utilizando para tal  um dos instrumentos seus preferidos  chamado de impostos, que neste momento agrava em mais 23% a factura e assim poderem compensar a desastrosa gestão que fazem do dinheiro recaudado.
Ao ver o valor final de uma factura, fico absolutamente alarmado e preocupado sobre a miséria a que nos submetem, tudo para que uns poucos vivam com muito (milhões) e possam fazer uma gestão desafogada e despreocupada dos dinheiros públicos.
Para o caso de que alguém tenha dúvidas, pode-se ver a factura acabadinha de chegar, nítida e a cores!
33,74 € de electricidade, 34,30€ de gás e 27,15 € de impostos!!!


terça-feira, 28 de março de 2017

O REGRESSO

Guardado há 33 anos, tenho este poema que me foi entregue aquando da minha formação militar, que sempre me comove cada vez que o leio. Desfrutem....

Tinha acabado a guerra; e Deus, lá nas alturas,
1ª GG - Desfile de tropas portuguesas em Paris
Cercado de astros de oiro e pulcros querubins
Ouviu sons marciais, fanfarras e clarins,
E um ardente vozear de humanas criaturas.

´Que rumor – perguntou, perturba assim o ar?´
"Senhor, lhe responde alguém da corte celestial,
-Os bravos vencedores da Guerra Mundial,
Sob o Arco do Triunfo estão a desfilar."
Na célica mansão um sussurro se expande;
E a densa legião de almas plenas de graça
Acorre curiosa e se debruça e esvoaça
P'ra melhor distinguir a marcha heróica, grande!

Então o bom S. Pedro, o santo venerando,
Que por mando divino é dos céus o porteiro,
Gritou: "Chamai Flambeau, o esperto granadeiro,
Para explicar o que se for passando."

Flambeau, que combateu e foi dos mais ousados,
Acerca-se atencioso, observa por momentos, e informa:

"Vão ali famosos regimentos,
A glória militar, indómitos soldados!"
Cavaleiros, então, avançam com ardor
E ele anunciou: "Desfilam os dragões!..."
Estremecem no céu os áureos portões
Que a voz do povo era um estrídulo clamor.

- "Mas isto nada é...", disse Flambeau atento.
"Olhai a Artilharia!..." Em enorme alarido,
Reboam saudações qual ciclone enfurecido,
Ascendendo em rajada até ao firmamento.

E Flambeau continua: "Isto ainda não é nada!
Vereis melhor Senhor... Eis os aviadores!..."
Regougam pelo espaço os potentes motores,
A ponto tal que a voz do povo é sufocada.

Flambeau proclama com enlevo! "Os Marinheiros..."
Desta vez o entusiasmo os mundos excedeu;
E cativado, o sol, palmas de oiro abateu
Sobre os rijos heróis, que foram dos primeiros.

" Agora, Senhor meu - disse Flambeau ovante –
Vereis quando passar a nobre Infantaria...
Tenho medo que o sol estoire e finde o dia
E a noite eterna envolva a Terra num instante.
Serão aclamações estrondosas, torrenciais,
Vibrarão no azul qual doida trovoada
Verse-á a multidão frenética, entusiasmada,
Delírio igual jamais se viu, jamais."

Surgiram a seguir os homens das trincheiras,
Alpinos, caçadores e toda a infantaria.
Nas suas expressões claramente se lia
O martírio sofrido e angústias e canseiras.
Quando o canhão, rugindo, a morte semeava,
Impávidos, no posto, assim permaneciam...

Era uma coorte altiva, os tantos que ali iam
Um grande, imenso, mar de heróis que ali passava.
Às quentes saudações que a multidão soltou
Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais.

O espanto avassalou as regiões siderais.
E Flambeau, indignado, agreste se expressou:
-"Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?!
Por vós riram da morte e a fome desdenharam,
Cansados de sofrer jamais o confessaram,
São de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!
Deveis-lhe orgulho, sim, a graça de viver
E, em vez de os abraçar, calais-vos? Mal andais.

Franceses, ouvi bem: Sois rudes, sois brutais.
Tamanha ingratidão não tem razão de ser."

Mas mal termina a frase, olhando a Terra,
fica possuído de orgulho, o coração em festa...
Os Infantes, semideuses, heróis em gesta,
Que a luz do sol poente envolve e magnifica,
Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado...
Fremente, perturbada, a imensa multidão,
Por um alto mandato ou estranha inspiração,
Havia ajoelhado."


Adaptação livre Cap. J.M. Galhardo