Guardado há 33 anos, tenho este poema que me foi entregue aquando da minha formação militar, que sempre me comove cada vez que o leio. Desfrutem....
Cercado
de astros de oiro e pulcros querubins
Ouviu
sons marciais, fanfarras e clarins,
E
um ardente vozear de humanas criaturas.
´Que
rumor – perguntou, perturba assim o ar?´
"Senhor,
lhe responde alguém da corte celestial,
-Os
bravos vencedores da Guerra Mundial,
Sob
o Arco do Triunfo estão a desfilar."
Na
célica mansão um sussurro se expande;
E
a densa legião de almas plenas de graça
Acorre
curiosa e se debruça e esvoaça
P'ra
melhor distinguir a marcha heróica, grande!
Então
o bom S. Pedro, o santo venerando,
Que
por mando divino é dos céus o porteiro,
Gritou:
"Chamai Flambeau, o esperto granadeiro,
Para
explicar o que se for passando."
Flambeau,
que combateu e foi dos mais ousados,
Acerca-se
atencioso, observa por momentos, e informa:
"Vão
ali famosos regimentos,
A
glória militar, indómitos soldados!"
Cavaleiros,
então, avançam com ardor
E
ele anunciou: "Desfilam os dragões!..."
Estremecem
no céu os áureos portões
Que
a voz do povo era um estrídulo clamor.
-
"Mas isto nada é...", disse Flambeau atento.
"Olhai
a Artilharia!..." Em enorme alarido,
Reboam
saudações qual ciclone enfurecido,
Ascendendo
em rajada até ao firmamento.
E
Flambeau continua: "Isto ainda não é nada!
Vereis
melhor Senhor... Eis os aviadores!..."
Regougam
pelo espaço os potentes motores,
A
ponto tal que a voz do povo é sufocada.
Flambeau
proclama com enlevo! "Os Marinheiros..."
Desta
vez o entusiasmo os mundos excedeu;
E
cativado, o sol, palmas de oiro abateu
Sobre
os rijos heróis, que foram dos primeiros.
"
Agora, Senhor meu - disse Flambeau ovante –
Vereis
quando passar a nobre Infantaria...
Tenho
medo que o sol estoire e finde o dia
E
a noite eterna envolva a Terra num instante.
Serão
aclamações estrondosas, torrenciais,
Vibrarão
no azul qual doida trovoada
Verse-á
a multidão frenética, entusiasmada,
Delírio
igual jamais se viu, jamais."
Surgiram
a seguir os homens das trincheiras,
Alpinos,
caçadores e toda a infantaria.
Nas
suas expressões claramente se lia
O
martírio sofrido e angústias e canseiras.
Quando
o canhão, rugindo, a morte semeava,
Impávidos,
no posto, assim permaneciam...
Era
uma coorte altiva, os tantos que ali iam
Um
grande, imenso, mar de heróis que ali passava.
Às
quentes saudações que a multidão soltou
Silêncio
se seguiu, silêncio e nada mais.
O
espanto avassalou as regiões siderais.
E
Flambeau, indignado, agreste se expressou:
-"Assim
os recebeis, ó crua, ingrata gente?!
Por
vós riram da morte e a fome desdenharam,
Cansados
de sofrer jamais o confessaram,
São
de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!
Deveis-lhe
orgulho, sim, a graça de viver
E,
em vez de os abraçar, calais-vos? Mal andais.
Franceses,
ouvi bem: Sois rudes, sois brutais.
Tamanha
ingratidão não tem razão de ser."
Mas
mal termina a frase, olhando a Terra,
fica
possuído de orgulho, o coração em festa...
Os
Infantes, semideuses, heróis em gesta,
Que
a luz do sol poente envolve e magnifica,
Marcham
erectos, viris, o olhar altivo e ousado...
Fremente,
perturbada, a imensa multidão,
Por
um alto mandato ou estranha inspiração,
Havia
ajoelhado."
LUCIAN BOYER (https://en.wikipedia.org/wiki/Lucien_Boyer)
Adaptação
livre Cap. J.M. Galhardo
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