A
escola no meu tempo, situa-se lá para o ano de 1976/77, ou seja, há cerca de 30
anos, quando andava no 2º ano do ciclo preparatório, que equivale agora ao
vosso 6º ano de escolaridade.
Frequentei
a Escola Preparatória Luís António Verney em Lisboa, mais propriamente no
Bairro Madre de Deus, a qual tinha na altura, segundo a minha perspectiva, um
aspecto moderno e funcional. Para além das salas de aula, tinha espaços
adequados para as aulas de Música, Trabalhos Manuais e ainda um pavilhão
gimnodesportivo para a Educação Física, com balneários para tomar banho. Nas
suas imediações (fora da escola) existia um grande parque com árvores muito grandes
e frondosas, onde nos refugiávamos, mais em especial na Primavera e no Verão, quando
não havia aulas ou nos intervalos maiores. Aí, entretínhamo-nos a brincar, e
por vezes mastigávamos umas ervas que tinham uma flor branca na sua
extremidade, que davam um sumo ácido, a que chamávamos azedas. Um verdadeiro
vício, que nos deixava a boca num estado lastimável, como quando comemos
diospiros mal maduros.
A
professora que nos dava Música era invisual, mas não deixou por isso de nos dar
boas lições de música e belas lições de vida. Tenho a sensação que foi o ano em
que aprendi mais música na minha vida.
Olhando
para as disciplinas que existem actualmente (a que chamam agora de áreas
curriculares), não noto grandes diferenças para além das designações, como as
disciplinas de Trabalhos Manuais, Desenho, Música… Lembro-me de em determinada
altura, termos umas sessões especiais de Educação Sexual, com a projecção de um
filme, (deviam fazer parte de um projecto) que foram um sucesso entre a
rapaziada. A verdade é que desde então esqueci-me de muita coisa, mas sobre
essas sessões ainda era capaz de descrever algumas cenas! As classificações no
ciclo preparatório (5º e 6º ano) eram quantificadas de 0 a 20 valores.
No
ano a seguir fui para o Liceu Gil Vicente, também em Lisboa, onde frequentei o 7º,
8º e 9º ano de escolaridade – designação que ainda agora se mantém. Nesta
escola o espaço era mais limitado, mas não deixava por isso de ter todas as
condições.
À
porta estava sempre uma senhora com um grande cesto de verga, cheia de bolos
fresquinhos. Ao meio da manhã nunca falhava para ir comprar uma grande “bola de
Berlim” cheia de creme – uma verdadeira delícia, que agora é banida pelos
nutricionistas por ser uma das causas de obesidade da juventude (têm razão!).
Quanto
a disciplinas, de pouco me lembro, para além de que foi o único ano da
disciplina de inglês durante todo o meu ensino secundário (nos restantes anos
tive Francês). A professora era muito rezingona e se demorávamos um pouco a
pensar para responder às perguntas dela, punha-se a gritar toda histérica - “quikly,
quikly!”.
No
ano a seguir, no 9º ano, mais propriamente em 1979, o grupo musical Cheap Trick
fazia furor com o seu grande sucesso “I want you, to want me” e foi o
lançamento bombástico do álbum The Wall dos Pink Floyd. A canção “Another Brick in the Wall”
era a preferida da malta, em especial quando as crianças gritavam em coro “We
don’nt need education, we don’t need more control … ei teacher, live the kids
allown!” – um verdadeiro hino para o pessoal!
Nesses
anos, as classificações dos testes e das disciplinas eram quantificadas de 0 a 5 valores. No final do 9º
ano tivemos exames que condicionavam a passagem de ano para o 10º. Um aluno que
tivesse um 4 a
uma disciplina, para passar de ano, tinha que ter um 2 no exame. Não é para me
gabar, mas como tinha bastantes quatros, o processo não me enervou muito.
Nos
10º e 11º anos, a avaliação voltou a ser na escala de 0 a 20 valores. Já existiam as
diversas áreas de letras e ciências Eu fui para a de ciências, mais
propriamente para Metalomecânica, a que agora designam como curso Tecnológico.
No
12º ano reprovei num exame de final de época a uma disciplina (Física e
Química) o que me obrigou a repetir o ano só por causa dessa cadeira. O melhor
do episódio, foi que no ano seguinte esses exames que me fizeram marcar passo
um ano, deixaram de existir. Chama-se a isto azar nítido.
Muito
mais haveria para contar, não fosse a minha curta memória, mas analisando tudo
o que se passou na minha vida de estudante, depreendo que fomos autenticas
cobaias nas mãos de uma política instável, onde tiravam, punham e moviam como
se de um jogo de xadrez se tratasse.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho5HAnSFFZN9gqAS88I4MSbUf3wAHft1jLnDxGvooK_GVyA1z9GQij1W5H9X4FArO88Yp7P65_99WPjxEXcBivvJC9ahM18VPHVPvbjWy9o7LDWW-2N9QGjY8FzU2lspTvjvvBJjIb/s400/ship_storm.jpg)
O
ensino ao longo de todos estes anos, faz lembrar um veleiro que anda à deriva e
que muda de rumo conforme muda a direcção do vento (e muda o poder político).
Por isso meus amiguinhos, vocês que estão no barco, sujeitos a encalhar,
agarrem-se com força à única coisa que vos pode salvar – os vossos professores.
São eles que vos dão os preciosos conhecimentos e com eles poderem vir a obter
uma profissão que corresponda aos vossos anseios.