domingo, 20 de dezembro de 2015

A ESCOLA NO MEU TEMPO

A escola no meu tempo, situa-se lá para o ano de 1976/77, ou seja, há cerca de 30 anos, quando andava no 2º ano do ciclo preparatório, que equivale agora ao vosso 6º ano de escolaridade.
Frequentei a Escola Preparatória Luís António Verney em Lisboa, mais propriamente no Bairro Madre de Deus, a qual tinha na altura, segundo a minha perspectiva, um aspecto moderno e funcional. Para além das salas de aula, tinha espaços adequados para as aulas de Música, Trabalhos Manuais e ainda um pavilhão gimnodesportivo para a Educação Física, com balneários para tomar banho. Nas suas imediações (fora da escola) existia um grande parque com árvores muito grandes e frondosas, onde nos refugiávamos, mais em especial na Primavera e no Verão, quando não havia aulas ou nos intervalos maiores. Aí, entretínhamo-nos a brincar, e por vezes mastigávamos umas ervas que tinham uma flor branca na sua extremidade, que davam um sumo ácido, a que chamávamos azedas. Um verdadeiro vício, que nos deixava a boca num estado lastimável, como quando comemos diospiros mal maduros.
A professora que nos dava Música era invisual, mas não deixou por isso de nos dar boas lições de música e belas lições de vida. Tenho a sensação que foi o ano em que aprendi mais música na minha vida.
Olhando para as disciplinas que existem actualmente (a que chamam agora de áreas curriculares), não noto grandes diferenças para além das designações, como as disciplinas de Trabalhos Manuais, Desenho, Música… Lembro-me de em determinada altura, termos umas sessões especiais de Educação Sexual, com a projecção de um filme, (deviam fazer parte de um projecto) que foram um sucesso entre a rapaziada. A verdade é que desde então esqueci-me de muita coisa, mas sobre essas sessões ainda era capaz de descrever algumas cenas! As classificações no ciclo preparatório (5º e 6º ano) eram quantificadas de 0 a 20 valores.
No ano a seguir fui para o Liceu Gil Vicente, também em Lisboa, onde frequentei o 7º, 8º e 9º ano de escolaridade – designação que ainda agora se mantém. Nesta escola o espaço era mais limitado, mas não deixava por isso de ter todas as condições.
À porta estava sempre uma senhora com um grande cesto de verga, cheia de bolos fresquinhos. Ao meio da manhã nunca falhava para ir comprar uma grande “bola de Berlim” cheia de creme – uma verdadeira delícia, que agora é banida pelos nutricionistas por ser uma das causas de obesidade da juventude (têm razão!).
Quanto a disciplinas, de pouco me lembro, para além de que foi o único ano da disciplina de inglês durante todo o meu ensino secundário (nos restantes anos tive Francês). A professora era muito rezingona e se demorávamos um pouco a pensar para responder às perguntas dela, punha-se a gritar toda histérica - “quikly, quikly!”.
No ano a seguir, no 9º ano, mais propriamente em 1979, o grupo musical Cheap Trick fazia furor com o seu grande sucesso “I want you, to want me” e foi o lançamento bombástico do álbum The Wall dos Pink Floyd. A canção “Another Brick in the Wall” era a preferida da malta, em especial quando as crianças gritavam em coro “We don’nt need education, we don’t need more control … ei teacher, live the kids allown!” – um verdadeiro hino para o pessoal!
Nesses anos, as classificações dos testes e das disciplinas eram quantificadas de 0 a 5 valores. No final do 9º ano tivemos exames que condicionavam a passagem de ano para o 10º. Um aluno que tivesse um 4 a uma disciplina, para passar de ano, tinha que ter um 2 no exame. Não é para me gabar, mas como tinha bastantes quatros, o processo não me enervou muito.
Nos 10º e 11º anos, a avaliação voltou a ser na escala de 0 a 20 valores. Já existiam as diversas áreas de letras e ciências Eu fui para a de ciências, mais propriamente para Metalomecânica, a que agora designam como curso Tecnológico.
No 12º ano reprovei num exame de final de época a uma disciplina (Física e Química) o que me obrigou a repetir o ano só por causa dessa cadeira. O melhor do episódio, foi que no ano seguinte esses exames que me fizeram marcar passo um ano, deixaram de existir. Chama-se a isto azar nítido.
Muito mais haveria para contar, não fosse a minha curta memória, mas analisando tudo o que se passou na minha vida de estudante, depreendo que fomos autenticas cobaias nas mãos de uma política instável, onde tiravam, punham e moviam como se de um jogo de xadrez se tratasse.
Como devem imaginar, na altura ainda estava fresca a revolução do 25 de Abril de 1974, pelo que se viviam momentos conturbados, onde tudo se queria mudar. Podemos tomar então isso como desculpa para todas as convulsões da reforma do ensino. Porém, passados 30 anos, continua tudo muito parecido ao que era no meu tempo, para além de convenientes alterações de designação.

O ensino ao longo de todos estes anos, faz lembrar um veleiro que anda à deriva e que muda de rumo conforme muda a direcção do vento (e muda o poder político). Por isso meus amiguinhos, vocês que estão no barco, sujeitos a encalhar, agarrem-se com força à única coisa que vos pode salvar – os vossos professores. São eles que vos dão os preciosos conhecimentos e com eles poderem vir a obter uma profissão que corresponda aos vossos anseios.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

DESPEDIDA DA MINHA MÃE


A morte é negra, dura e escura. A ela ninguém escapa... Mas eu hei-de escapar!... Sabem como? Compro uma panela, meto-me dentro dela, custa-me um vintém,  tapo-a muito bem, Nisto vem a morte e diz: aqui não há ninguém!!!
Era assim que a Maria Irene Teixeira Pires da Silva, nascida em 03/09/1922, recitava em tom de brincadeira, sem hesitações, inúmeras passagens de peças de teatro, que tinha aprendido quando jovem, na Escola.
Nasceu na então vila de Chaves, mas cedo foi viver com toda a sua família para Faiões, de onde tinham origem.
A década de 20 e 30 era de crise, com muita pobreza. Por ser a mais velha e a única rapariga de entre 4 irmãos sobrevivos (morreram 3), e porque era tradição, quase lhe foi imposto o destino das lides caseiras, mas graças à sua  mãe, acabou por ser poupada a tal desígnio.
Em vez disso, aos 12 anos mandaram-na estudar para o Colégio Teresiano em Braga. Aí, adquiriu uma sólida formação académica e religiosa, acabando por frequentar o Magistério Primário e assim ser professora do ensino primário.
Na altura a falta de professores era tão grande (a sua formação esteve encerrada durante vários anos e só abriu no ano em que concorreu - 1942) que mesmo antes de frequentar o magistério, a tão só aprovação no exame de admissão, permitiu-lhe leccionar durante 4 meses em Santa Cruz de Cimo de Vila da Castanheira, em regime provisório, até começar o Magistério.
No final de 1945 acabou o Magistério Primário em Braga e finalmente regressou à sua querida terra. No 1º ano de professora leccionou em Roriz e os 14 seguintes passou-os em Oucidres.
Em 1957, mais propriamente em 19 de Setembro, casou com João Maria Pires da Silva, constituindo-se assim um dos grandes momentos que marcaram a sua vida.
Em 1960 aproximou-se mais da sua terra natal, ao ser colocada em Vila Verde da Raia, onde esteve 3 anos e após este período foi para a escola de Faiões, onde permaneceu 22 anos, até que se reformou, em 1984.
Teve dois filhos, onde investiu toda a sua vida e todo o seu amor, cego e incondicional.
A sua vida foi longa e bem acompanhada pelo seu marido de sempre, no entanto, como todas as viagens têm o seu fim, também a dela chegou ao seu termo.
Já partiu, mas ficou a sua obra reconhecida: centenas de crianças, agora adultos, que receberam uma sólida formação e recordam com saudade o seu zelo e empenho, os seus filhos que viveram por entre a saudade e o amor de uma mãe dedicada, e sentem que tiveram o melhor daquilo que lhes podiam oferecer, e uma terra (Faiões) que foi o seu berço e da qual nunca se quis desprender.
Agora está junto Daquele com quem compartiu a sua incondicional fé e amor: Jesus Cristo, que a deve ter agora mesmo acolhida entre os seus braços.
Perante uma vida tão completa e bem realizada, devemos aqui, não despedir a morte, mas sim celebrar a vida, a qual a D. Irene percorreu com tanta vontade e alegria.
Bem haja mãe e descansa em paz.

Faiões, 23 de Fevereiro de 2015