quinta-feira, 1 de março de 2012

À SOMBRA DA MENTIRA


  “Anda meio mundo a enganar outro meio” – é uma frase “pronta a servir” que já há muito conheço e que cada vez tem mais peso nos tempos que correm.

Dantes, com o que lia nos livros, jornais, revistas e via na televisão,, sentia-me mais ou menos seguro das elações que tirava dos mesmos, quanto à sua autenticidade. O jornalismo era relativamente sério (apesar de haver sempre um pouco de tudo em todo o lado), e notava-se por parte dos seus profissionais, um certo cuidado em procurar a verdade e relatá-la de forma isenta, clara precisa e concisa.
Com a democracia “Abrilesca de 74”, para além de deixar de existir a censura, cada um passou a dizer aquilo que muito bem entendia, sem qualquer pingo de vergonha, apostando fortemente no princípio de que “uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade”. Este método foi, e é, explorado até ao limite pelos nossos políticos.
Com a explosão dos meios de comunicação social, cada um deixou de estar no seu cantinho, passando de repente a ter o mundo a seus pés. O fluxo de informação multiplicou-se exponencialmente. Onde antes apenas sabíamos das desgraças locais e das nacionais de maior relevância, passamos a ver em todo o mundo e em directo aquilo que se passava.
A nossa adaptação foi tão rápida como a própria informatização e digitalização dos meios. Só que o acesso fácil, também trouxe a mentira fácil.
Às vezes, tão depressa aparece alguém a dar uma notícia, como aparece outrem a desmenti-la. Como é o caso dos mediáticos e eternos julgamentos como o da “Casa Pia”, onde a manipulação dos factos, é uma verdadeira especialidade dos profissionais da justiça e da comunicação. Se aparece um relato que um indivíduo é constituído arguido, rapidamente vem alguém a corrigir que é apenas testemunha; se um diz que o conhece, vem o outro dizer que nunca o viu, se um diz que o viu em tal lado, o outro diz que nunca lá esteve. Mesmo com o desfecho da sentença (se alguma vez acontecer), os condenados irão sempre gritar que estão inocentes. Nessa altura iremos duvidar da justiça e perguntar: será que o tribunal está a ser verdadeiro e íntegro?
Onde o pagode é maior, é no meio político, mais propriamente na Assembleia da República. Se um partido diz que determinada reforma é boa, outro partido diz que é má; se declaram que o défice está a baixar, vem outros dizer que está é a subir, pois os dados estão a ser manipulados. Porque é que na política, a verdade está sempre dividida ao meio?
Com a entrada da era digital, a confusão instalou-se definitivamente. Os filmes de ficção são feitos com uma perfeição tal que praticamente não se distingue o que é realidade. As fotos digitais são facilmente alteradas, sem que alguém se aperceba de que algo está errado.
Só o futebol passa incólume às evoluções tecnológicas. A sua utilização para tornar a decisão do árbitro mais clara e justa não interessa; preferem continuar com os jogos de manipulação nos bastidores e assim alimentar a polémica que enche tantas páginas dos jornais. O que seria do futebol sem a discussão e a controvérsia!
Perante tudo isto, tenho que concluir, um pouco desanimado, que a tecnologia da comunicação e imagem, só é utilizada no meio político e outras áreas afins (justiça, informação, futebol, etc.), para alimentar a mentira e a confusão. Se for para apurar a verdade, então preferem o tradicional e o grosseiro. Estamos num paraíso chamado Portugal! Mais nada!

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