segunda-feira, 26 de outubro de 2015

DESPEDIDA DA MINHA MÃE


A morte é negra, dura e escura. A ela ninguém escapa... Mas eu hei-de escapar!... Sabem como? Compro uma panela, meto-me dentro dela, custa-me um vintém,  tapo-a muito bem, Nisto vem a morte e diz: aqui não há ninguém!!!
Era assim que a Maria Irene Teixeira Pires da Silva, nascida em 03/09/1922, recitava em tom de brincadeira, sem hesitações, inúmeras passagens de peças de teatro, que tinha aprendido quando jovem, na Escola.
Nasceu na então vila de Chaves, mas cedo foi viver com toda a sua família para Faiões, de onde tinham origem.
A década de 20 e 30 era de crise, com muita pobreza. Por ser a mais velha e a única rapariga de entre 4 irmãos sobrevivos (morreram 3), e porque era tradição, quase lhe foi imposto o destino das lides caseiras, mas graças à sua  mãe, acabou por ser poupada a tal desígnio.
Em vez disso, aos 12 anos mandaram-na estudar para o Colégio Teresiano em Braga. Aí, adquiriu uma sólida formação académica e religiosa, acabando por frequentar o Magistério Primário e assim ser professora do ensino primário.
Na altura a falta de professores era tão grande (a sua formação esteve encerrada durante vários anos e só abriu no ano em que concorreu - 1942) que mesmo antes de frequentar o magistério, a tão só aprovação no exame de admissão, permitiu-lhe leccionar durante 4 meses em Santa Cruz de Cimo de Vila da Castanheira, em regime provisório, até começar o Magistério.
No final de 1945 acabou o Magistério Primário em Braga e finalmente regressou à sua querida terra. No 1º ano de professora leccionou em Roriz e os 14 seguintes passou-os em Oucidres.
Em 1957, mais propriamente em 19 de Setembro, casou com João Maria Pires da Silva, constituindo-se assim um dos grandes momentos que marcaram a sua vida.
Em 1960 aproximou-se mais da sua terra natal, ao ser colocada em Vila Verde da Raia, onde esteve 3 anos e após este período foi para a escola de Faiões, onde permaneceu 22 anos, até que se reformou, em 1984.
Teve dois filhos, onde investiu toda a sua vida e todo o seu amor, cego e incondicional.
A sua vida foi longa e bem acompanhada pelo seu marido de sempre, no entanto, como todas as viagens têm o seu fim, também a dela chegou ao seu termo.
Já partiu, mas ficou a sua obra reconhecida: centenas de crianças, agora adultos, que receberam uma sólida formação e recordam com saudade o seu zelo e empenho, os seus filhos que viveram por entre a saudade e o amor de uma mãe dedicada, e sentem que tiveram o melhor daquilo que lhes podiam oferecer, e uma terra (Faiões) que foi o seu berço e da qual nunca se quis desprender.
Agora está junto Daquele com quem compartiu a sua incondicional fé e amor: Jesus Cristo, que a deve ter agora mesmo acolhida entre os seus braços.
Perante uma vida tão completa e bem realizada, devemos aqui, não despedir a morte, mas sim celebrar a vida, a qual a D. Irene percorreu com tanta vontade e alegria.
Bem haja mãe e descansa em paz.

Faiões, 23 de Fevereiro de 2015