Tudo começa um
mês antes com um ataque em massa do comércio a apelar ao consumo natalício. Ao
fim de uns minutos no hipermercado, fico longo apático com aquelas músicas
apaziguadoras e fraternas. Aproxima-se a data da grande festa e as televisões
mostram nos noticiários, as pessoas atarefadas a fazerem as compras de última
hora, e a mim a porem-me nervoso por ainda não ter comprado nada. Depois exibem
espectáculos deprimentes como é o “Natal dos Hospitais”.
A mim não se
passa nada, porque não ligo a este tipo de festividades. Eu fico alegre ou triste,
mais por intuição do que por estimulação, e por isso tenho a convicção que o
Natal “dá mais trabalho do que vale”, semeando mais tristeza do que alegria.
Para muitos
ficarem alegres ao receberem prendas, como é o caso das crianças, pois a ilusão
da época é sobretudo para elas, muitos tem que fazer contas de cabeça e
privações. Outros nem sequer recebem nada. Qual é a alegria de uma família que
vê tanta fartura à sua volta e nada tem para dar aos seus?
Os
carenciados, que nada tem que comer ou onde dormir, vale-lhes a caridade das
instituições humanitárias, para comer um bocado de bacalhau e bolo-rei, mas no
fundo devem sentir uma profunda melancolia, pois deve-lhes recordar momentos
bem melhores do que aqueles que estão a viver.
Quem já perdeu
os seus entes mais queridos, a recordação da sua companhia também não deve
deixar-lhes muito espaço para alegrias. E quem está internado nos hospitais e
nas prisões? E aqueles que tem familiares doentes no hospital? E aqueles que
estão em lares? E aqueles que estão de serviço? Forças de segurança, médicos,
enfermeiros, auxiliares, bombeiros, militares, etc.
Quem trabalha,
faz as refeições, lava os pratos, põe e levanta a mesa, será que se sentem
felizes com a época natalícia?
Os solteiros,
viúvos, divorciados e todos aqueles que não tem família próxima, poucas razões
têm para se sentirem alegres, pelo contrário, é uma época que custa a passar.
A época de
Natal tornou-se um festejo socialmente doentio, em que tudo somado gera mais
tristeza, frustração e depressão do que alegria.
Se o Natal dependesse
de mim e pudesse ser cancelado por decreto, eu acabava com ele, pois tenho a
convicção que existiriam mais pessoas a ficar aliviadas do que aquelas que
ficariam tristes. O mesmo se aplica à estúpida festa de passagem de ano.