segunda-feira, 29 de agosto de 2011

QUERO DE VOLTA A MINHA LIBERDADE

O acto de viver numa sociedade, é cada vez mais a subjugação a um sistema de forças que nos obriga a fazer aquilo que está estabelecido.
Aos poucos saem leis, despachos, normas, que nos vão limitando a nossa acção e tolhendo a nossa liberdade.

A título de exemplo, no tempo em que um carro para atingir 100 Km/h era um feito (com a proporcional capacidade de travagem), o limite da velocidade máxima em estrada era 90 Km/h. Passados mais de 50 anos de uma avassaladora evolução tecnológica, com sofisticados sistemas electrónicos de controlo de estabilidade, de travagem e de tracção, de nada servem para que esses limites se alterem. E isto não irá ficar por aqui. Os limites de velocidade hão-de baixar tanto, que um dia temos que andar de marcha-atrás para os cumprir.
Há quarenta ou cinquenta anos, com os mesmos 10 milhões de habitantes, existiam provavelmente menos de metade das leis que agora existem. Como é que, com o mesmo número de pessoas tornou-se necessária tanta lei e ordem? Será que as pessoas estão a ficar mais selvagens e indomáveis do que outrora?
Deambulamos num sistema que se diz democrático, mas decididamente opressor, que actua de forma cega à procura de fazer vergar indivíduos e pequenos grupos desobedientes e radicais, mas que na prática atinge toda uma população que nada tem a ver com o assunto. É o que se chama “apanhar por tabela”.
Compreendo assim, porque existem pessoas que optam por se isolar de todas estas contrariedades. Não se pode conduzir com velocidade por causa dos drogados, bêbados e inconscientes, não se pode ir para a floresta por causa dos incendiários e outros anormais, não se pode ir para as dunas por causa dos agressores do ambiente e dos areeiros… que mais nos irá acontecer?
Como se tudo isso não bastasse, a própria sociedade impõe valores seculares que em nada ajudam a nossa lucidez mental para poder decidir o nosso futuro. Basta nascer neste mundo e toca a incutir-nos que para ser normal é preciso casar, ter filhos, ter uma casa, um carro e outros acessórios. E nós encantados da vida, manipulados até aos cabelos, lá percorremos o caminho que nos foi traçado.
Sou cumpridor, respeitador e consciente das minhas possibilidades. Por isso não gosto que me limitem as minhas acções. Não gosto de ter que cumprir um sinal de proibição de circular a mais de 120 Km/h, quando verifico que posso ir a maior velocidade. Não gosto de que me proíbam só porque existe uma minoria que não cumpre as normas mais elementares de vivência em grupo.
Sinto que, com o passar dos anos, isto está a tornar-se uma penitenciária gigante, ao ar livre. Porque sou cumpridor e não infringi nenhuma lei, exijo que me seja devolvida a minha liberdade de poder optar por aquilo que eu considero mais indicado. A minha condição de ser inteligente assim o reclama.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

EXAME DE CONSCIÊNCIA

É mais fácil criticar do que fazer. Ponto assente. Porém, se a crítica for construtiva e oportuna, pode valer milhões. Regra geral, ninguém gosta de ser contrariado e ainda menos que lhe apontem o dedo a más acções.
A liberdade de expressão tem um lado saudável e uma vertente perniciosa. Depende de quem a utiliza. A comunicação social é exemplo disso. Dentro dela vemos o bom e o mau jornalismo. Quantas vezes já não assistimos à invenção de histórias bem orquestradas e que não passam de calúnias. O actual estado do sistema judicial e da informação está de tal forma degradado, que ninguém sabe de forma absoluta o que é verdade e o que é mentira, pois existe sempre alguém com ar imaculado a desmentir os factos.
Nesta sociedade mascarada, onde só as crianças e os ingénuos acreditam naquilo que vêem, vive-se duramente o dia-a-dia, num claro exercício de sobrevivência, tal qual o faziam os nossos antepassados, nos tempos das cavernas.
Ser frontal, criticar, ou mesmo não ser hipocritamente cordial, pode sair caro. Todos sabemos que a denúncia ou a acusação contra poderes e interesses instalados pode mais rapidamente ir contra nós do que a favor da justiça e da igualdade. Por isso é que muitas vezes ouvimos ou assistimos a violência doméstica mesmo ao lado da nossa casa e silenciamo-nos atrás do ditado “entre homem e mulher não se mete a colher”.
O Estado, que gere os bens e os interesses comuns dos seus súbditos, é frequentemente alvo de críticas sobre a forma como o faz. Há trinta e tal anos o remédio era santo. Das duas uma: ou se fazia às escondidas ou então estava-se sujeito à mão pesada de quem fiscalizava os desbocados que criticavam o regime.
Mais do que nunca é preciso criticar, mas sempre com responsabilidade. Temos o dever cívico de zelar pelo espaço comum. E devemos ser exigentes ao pormenor, pois cada cêntimo do erário público é muitas vezes proveniente de impostos que a muitos custou e faziam falta para comer. Não basta lançar um olhar distraído. A complacência típica do povo português, tem resultado em aproveitamentos escandalosos por parte de indivíduos e grupos profissionais que vivem e enriquecem à custa de fugas por má gestão dos dinheiros públicos.
Quem recebe as críticas deve convertê-las em energia, para ultrapassar os obstáculos. Deve ser suficientemente introspectivo para fazer melhor e superar-se.
Por isso, todos nós, cidadãos, somos responsáveis por tudo aquilo que fazemos, devemos assumir e fazer um exame de consciência sobre as nossas palavras e os nossos actos.
Pior do que mal criticar, é criticar quem critica. É como roubar a caça ao caçador, dar um tiro nas costas a um amigo ou roubar um pobre, mas no contexto deste assunto, tudo não passa de um acto de mera pobreza intelectual. Também é a reacção negativa daqueles que não são introspectivos e não suportam a responsabilidade do cargo que ocupam.