A revolta já começou há muito, muito tempo. Uma revolta lenta, silenciosa e passiva.
Vemos - a em todo o lado, mas não damos conta, nem queremos saber que existe.
Alguém já se perguntou porque é que, apesar de terem gasto milhões de euros durante anos a fio, em campanhas contra a sida (uso do preservativo), prevenção rodoviária, para mudar hábitos perniciosos para a saúde, como é o tabaco, contra a violência doméstica, separar o lixo, etc., etc., os resultados são normalmente decepcionantes?
Para quem sobrevive parte da vida com as privações de um ordenado mínimo ou de uma pensão miserável, muitas vezes partilhado, com várias pessoas numa casa diminuta, os princípios e as campanhas esbatem-se. Não há tempo nem disposição para ouvir mensagens de sensibilização e ainda menos para participar nelas. O importante é sobreviver às dificuldades que, sem dinheiro, não se conseguem superar.
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Daqueles que nascem e crescem neste ambiente, a maior parte não consegue de lá sair. Sucumbem e afundam-se. A miséria é muito mais do que a falta de recursos materiais e financeiros. É o infortúnio de ser pobre, que lhes tira a vontade de viver e progredir.
Fumar faz mal? Por o preservativo nas relações sexuais? Ir votar? Separar o lixo? São tudo perguntas que não merecem a mínima atenção por cerca de 50% da população portuguesa que vive no limiar da pobreza.
Tudo isto ajuda a perceber porque é que existe a criminalidade e a prostituição. Não é só por preguiça de trabalhar e a cobiça de ganhar dinheiro fácil. O que está por trás é um emaranhado de traumas e sentimentos profundos, que levam a desdenhar da sua própria vida e muitas vezes tomar atitudes contra os outros.
A política no mundo inteiro, seja qual for a ideologia, demonstrou ser incapaz de inverter a injustiça social. Bem pelo contrário, tem deixado aumentar cada vez mais o fosso entre os ricos e os pobres e tem-se deixado levar pelo capitalismo desenfreado.
A revolta dos mais desfavorecidos está viva e latente e vai primeiro contra eles próprios. A grande incógnita é, quando é que eles deixam de suportar a diferença abismal que existe entre pobres e ricos. Se não se atenuar a situação, arriscamo-nos no futuro, a assistir (e sofrer) actos constantes de revolta, vandalismo, assaltos, raptos, manifestações, etc..
Que não seja por falta de avisos. Até o ex-presidente da República Mário Soares, que não serve de exemplo para ninguém quanto a actos e omissões, cuja conduta na sua candidatura à presidência da República, e no apoio ao seu filho João Soares nas eleições da Câmara de Lisboa, já denotava alguma senilidade (para não lhe chamar outra coisa), veio dizer ainda há pouco tempo, a propósito das manifestações na Grécia, que corremos o risco de uma revolta a larga escala.
A linha que separa a serenidade da revolta é cada vez mais ténue. Podemos comparar esta situação com a que se vive no equilíbrio ambiental da Terra. Veremos qual vai ser a primeira a explodir.
Nota: Este artigo foi escrito por mim em 29/01/2009. Passados dois anos e 9 meses, não estamos mais próximos da explosão?